sexta-feira, 11 de novembro de 2011

DIDÁTICA E ESTÁGIO CURRICULAR

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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DIDÁTICA E ESTÁGIO CURRICULAR
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
INTRODUÇÃO
A proposta curricular para a rede escolar pública do Estado de Santa Catarina, apresentada sob
forma de documento em 1991, já configurava em seu interior preocupações e encaminhamentos à disciplina
Didática e à Prática de Estágio Curricular. Questões como a distinção entre prática de ensino e estágio
supervisionado; o objeto de estudo da área disciplinar da Didática; a necessidade de um campo de
conhecimento voltado para os conhecimentos específicos e necessários ao trabalho docente, e ainda o papel
de cada uma das disciplinas que compõem o currículo do Magistério já eram abordadas como parte de um
rol de preocupações centrais do Curso de Magistério.
A implementação de uma proposta curricular, na medida em que ocorre sempre por um processo de
interpretação e de adaptação por parte dos agentes da rede escolar, exige atenção, esclarecimento e (re)
significação constantes. Observa-se que existe um movimento de interesse por parte de muitos professores,
uma preocupação quanto à apropriação da fundamentação teórico-metodológica, que merece a retomada da
proposta do conteúdo da área disciplinar da Didática e do Estágio Curricular com vistas ao seu
aprofundamento e uma implementação de maior qualidade. Esta é pois, a finalidade deste texto, dispor ao
conjunto dos professores e demais sujeitos envolvidos na formação de docentes temas centrais relativos à
inserção da Didática e do Estágio Curricular.
Antes de tratarmos do nosso objeto específico – a concepção disciplinar e do ensino da Didática e do
Estágio Curricular – expomos de forma breve o “cenário conceitual” e consequentemente da práxis almejada.
Neste sentido, reafirmamos a concepção do Materialismo Histórico como fundamento de todo o
trabalho a ser desenvolvido neste campo disciplinar.
Assim, partimos da premissa de que a educação escolar não é neutra, é intencional. Nela os homens
e mulheres põem, pelo trabalho, finalidades a suas ações, as quais não são alcançadas a priori, pelo contrário
encontram resistências no real, materializadas e determinadas por fatores econômicos, políticos, sociais,
culturais, éticos, etc.
Ao pôr finalidade, os seres humanos o fazem num contexto marcado por interesses contraditórios,
desiguais, seja na produção e/ou dominação do trabalho humano abstrato – conhecimento – seja na produção
de capital.
É imprescindível o conhecimento do real (do ser social/das relações sociais) para que o agir humano
se efetive numa perspectiva emancipatória. Apenas os homens e mulheres que conseguirem desenvolver
uma coerente apreensão da totalidade, isto é do real que é processual, histórico, contraditório é que terão
possibilidades de transformá-lo. Através da atividade consciente com as mediações, o ser humano supera
necessidades ao mesmo tempo que novas e mais complexas mediações vão se constituindo (engendrando).
Portanto, o ser humano, ao pôr finalidade vai transformando o real e a si mesmo.
DIDÁTICA: a contribuição como campo de conhecimento pedagógico e disciplina
As crianças que diariamente dirigem-se às escolas, seus pais ou responsáveis e a sociedade em geral
têm historicamente na escola um espaço singular onde se desenvolve uma imensa gama de relações:
econômicas, políticas, sociais e culturais na forma de currículo escolar. Se examinarmos as rotinas de

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trabalho das escolas veremos que elas giram centralmente em torno do cumprimento dos programas de
ensino; o trabalho escolar não é centrado na observação/reflexão das relações pedagógicas para que elas
possam ser interpretadas, discutidas e redefinidas. Podemos identificar aí o desenvolvimento de um
currículo fragmentado e desligado das necessidades sociais dos alunos e dos próprios professores como
profissionais.
Se consideramos que a escola deve ser o local onde os alunos participam de relações cujo objetivo
seja a aquisição de conhecimentos e habilidades diversas que os capacitem a compreender o mundo e sua
dinâmica histórica, e ainda que possam intervir criticamente , teremos, então, que problematizar, interrogar
permanentemente as práticas escolares.
O trabalho educativo na escola implica em selecionar conhecimentos, distribuí-los e torná-los
passíveis de serem objeto de escolarização das crianças; assim, podemos afirmar que a atividade docente
exige saberes específicos relacionados ao desenvolvimento de um projeto educativo consistente e articulado.
Tornam-se necessários saberes pedagógicos. Como podemos definir estes saberes?
Eles se referem aos processos e aspectos que estão envolvidos na reflexão, organização e
desenvolvimento das relações escolares de ensino e de aprendizagem. É certo que ao longo do exercício da
atividade docente os professores constróem estes saberes, mas o fazem, predominantemente, ao sabor de
práticas e orientações que são tradição da cultura escolar em que se inserem, bem como ao sabor das
solicitações e emergências institucionais e, ou pessoais.
Esta forma de construção dos saberes pedagógicos é problemática pois não “dota” o professor da
condição de dialogar com sua própria prática e de outros, pelo contrário, o dispõe a atitudes de préconcepção
e estas sempre “andam de mãos dadas” com ações conservadoras.
Portanto, existe para o professor de qualquer campo de conhecimento ou prática a necessidade
concreta de estudar, discutir coletivamente e construir a condição de produzir a sua prática pedagógica. O
que se está afirmando é que há um trabalho pedagógico que se realiza na escola e que pode ser explicado por
categorias gerais; eis aí o campo da teoria pedagógica para o qual podem contribuir a Didática como
disciplina e o Estágio Curricular como espaço de inserção mais sistemática no universo escolar. Portanto, a
especificidade disciplinar da Didática (geral) não está na busca de um método geral de ensino, e sim num
corpo de categorias próprias do trabalho pedagógico, em geral.(FREITAS, 1994, p. 84)
Neste sentido vale destacar que estamos referindo não a qualquer tipo de trabalho pedagógico, mas
àquele que esteja envolvido com a produção de conhecimento (não necessariamente original), através do
trabalho como valor social (não do “trabalho” de faz-de-conta, artificial); a prática refletindo-se na forma
de teoria que é devolvida à prática, num circuito indissociável e interminável de aprimoramento.(idem: 96)
Assim, no que se refere à disciplina Didática do Curso de Magistério no Ensino Médio, é preciso definir
os conhecimentos (categorias) que devem descrever e explicar os processos de ensino e aprendizagem, e
posteriormente permitir a elaboração de projetos/propostas de intervenção na escola.
O conteúdo disciplinar da Didática, nesta concepção, entende o conhecimento escolar – os
conteúdos de ensino – como aquele que “pode” configurar a escola como espaço de resistência a saberes
fragmentados e a ações autoritárias. E com esta perspectiva o professor possa olhar, ler, compreender a
estrutura social, e principalmente, desencadear ações a partir de seu objeto específico de trabalho – o
conhecimento – no sentido da construção de uma nova ciência, educação, política, ética e cultura.
A educação é constituída e constituinte das relações sociais; sendo a escolarização uma das práticas
sociais de educação, tem na relação pedagógica sua parte nuclear, a qual precisa ser concebida – compreendida e
realizada – como trabalho social, ou seja, como prática interessada, contextual e histórica.
A disciplina Didática como parte de um currículo, tem neste a tarefa de discutir, organizar e efetivar
os saberes pedagógicos necessários a todos os campos de conhecimento, a todo o professor, e como tal, ela
traz um objeto central de estudo: o processo pedagógico.
É tradição na área a problematização da Didática a partir da sala de aula, no sentido de que os seus
temas materializam-se mais claramente na relação pedagógica que lá ocorre. Freitas (1994) insiste em uma
redefinição de nosso olhar para a Didática como parte da organização do trabalho pedagógico na escola
Segundo ele: Não nos parece suficiente aceitar a importância dos dois níveis e realizar a análise em série:
primeiro a didática, depois a organização do trabalho pedagógico. É impossível continuar a refletir sobre
a didática sem levar em conta a organização do trabalho escolar, como um todo, simultaneamente.(275)

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A partir deste posicionamento o mesmo autor afirma da impossibilidade de se superar uma didática
que seja conservadora, alimentadora de um padrão de ensino excludente pela simples postulação de outra
didática; ao contrário, é preciso partir das contradições presentes em nossas escolas concretas (274).
Em nome deste lugar da didática como parte da organização do trabalho pedagógico escolar,
portanto como trabalho concreto, foram contemplados alguns temas para abordarmos as práticas atuais no
ensino da Didática e no desenvolvimento do Estágio Curricular.
ESCOLA PARA QUÊ? AINDA É PRECISO DISCUTIR
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA!
Quando é evidente que a cultura escolar está vinculada com o estabelecimento ou revisão de uma
hegemonia, com o acesso a bens culturais, com o destino social dos indivíduos, não se pode esperar
unanimidade quanto aos enfoques e às propostas sobre os conteúdos deste projeto. (Gimeno Sacristán)
A história da humanidade é uma forma de existência, permanentemente (re)criada. Os homens,
através do trabalho que realizam no interior de relações, produzem artefatos, símbolos, valores e acumulam
conhecimento sobre o real. Neste processo a humanidade produz conhecimento acerca da ética, da estética,
da técnica, do mítico, do intelectual e do social.
A escola é uma das instituições criadas como instrumento de atuação sobre os indivíduos, tendo em
vista dispô-los a certos comportamentos, atitudes, enfim a determinadas práticas sociais, atendendo a
interesses postos historicamente; assim, ela não foi “inventada” nem atua sob a aura do consenso, ao
contrário carregou sempre consigo o caráter das relações sociais pelas quais foi construída e reconstruída.
Portanto, tendo em vista esta sua natureza social, podemos compreender que reunir sujeitos em um
espaço físico singular, tempo, ritmo e com atividades determinadas, escolarizar, constitui um ato
interessado, nunca neutro.
Estas considerações são fundamentais caso queiramos tratar da função da escola em uma sociedade
de condições diferentes e oportunidades desiguais para a apropriação dos bens produzidos.
Significa que é preciso observar as práticas escolares, para desvendar suas reais finalidades – não
apenas as proclamadas – com as quais a escolarização se realiza, e daí identificar a função social que a
escola cumpre.
E por onde podemos interrogar sobre a função social das práticas escolares? Pelo desenvolvimento
curricular, onde se materializa um determinado tipo de organização de trabalho pedagógico. Uma escola que
desenvolve um currículo pobre, pelo conhecimento e relações que promove – porquanto desarticulado em
termos de planejamento, descolado das necessidades sociais históricas de seus alunos – merece nossa crítica
e intenso questionamento, pois certamente a função social que ela está cumprindo não condiz com o
propósito essencial de ampliar a possibilidade humana e formar uma comunidade justa e solidária.(Giroux
& Simon, apud Moreira, 1994, p. 118)
Se optamos por este propósito estamos escolhendo o desafio de enfrentar as atuais práticas da
escolarização, e isto traz como conseqüência todo um programa de debate e de trabalho para todos os
que se interessam pela educação.
Como pressuposto está a idéia de que não se estabelece “por decreto ou norma” uma nova função
social para a escola, mas busca-se elucidar aquela vigente para poder opor ações coordenadas e
consistentes. A idéia é de construir uma nova função social para a escola através de nossas práticas reais
fundamentadas no trabalho coletivo. Trata-se de enfrentar cotidianamente situações e processos que não
se definem e se resolvem apenas dentro do espaço da escola: o que significa trabalhar com alunos que
têm privilégios diferentes em função de sua classe social, raça e sexo? Por que iriam desejar mudar a
situação aqueles cujos interesses são favorecidos por formas de opressão? Seria esse conflito estrutural
inevitável em nossa sociedade atual?1
1 Estas perguntas são formuladas por Giroux & Simon (1994), ao discutirem possibilidades da prática curricular na perspectiva de
uma pedagogia crítica radical.

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A escola pública – e cada unidade como realidade particular – reúne alunos com realidades diversas,
professores e outros agentes igualmente comprometidos com determinadas práticas sociais. Esta condição é
inevitável no trabalho escolar e exige uma prática que consiga lidar com o desenvolvimento de um certa
ordem de conhecimentos – entre eles: Admitimos, no trabalho curricular, os conflitos e a diversidade de
práticas e conhecimentos sociais? Uma outra interrogação permanente e útil é de que modo a potencialidade
humana está sendo considerada?
Pode-se afirmar que unidades escolares vêm criando expectativas e práticas de um trabalho
articulado, cujos fundamentos e resultados são mais visíveis e se dirigem radicalmente a uma função social
de emancipação dos agentes da escolarização e dos alunos.
ORGANIZAÇÃO E PRÁTICA CURRICULAR E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
NA ESCOLA
O ensino escolar realiza-se através de relações sociais, quer nas situações de aula, quer nas diversas
atividades que indiretamente lhe imprimem direção ou possibilidades/obstáculos. Há um currículo em
andamento nas escolas, fruto de determinadas formas de conceber e realizar a formação dos alunos: o ensino
de cada série ou campo de conhecimento ocorre neste cenário institucional.
O currículo escolar, como parte da cultura, expressa as dimensões econômica, política, social,
ética... determinantes em dada época e sociedade. Estudos têm mostrado que as análises no campo do
currículo não são simples, pois ele não representa posições consensuais sobre a utilidade ou valor de
determinados conhecimentos. O currículo é a expressão de forças e interesses conflitantes na sociedade
(Oliveira & Santos, 1994).
Quando se fala, aqui, em currículo estamos nos referindo ao conjunto de conhecimentos
transmutados em currículo escolar, o qual atua para produzir identidades individuais e sociais no interior
das instituições educacionais (Moreira, 1994, p. 26).
O currículo refere-se, então, a conhecimentos, atitudes e valores que esperamos preservar e
transmitir via escola, os quais são produto de um processo de seleção no interior da cultura de uma
sociedade (Sampaio, 1995, p. 145). Ao produzi-lo a escola procede a “arranjos” do conhecimento construído
socialmente através de relações concretas: seleciona, hierarquiza, nomeia e valora. Assim, compreende-se
que a educação escolar em geral e o currículo não atuam apenas como correias transmissoras de uma
cultura produzida em outro local, por outros agentes, mas são partes integrantes e ativas de um processo de
produção de sentidos, significações, de sujeitos. (Moreira, ibidem, p. 26-27)
Um aspecto fundamental da questão curricular é destacado ainda por Sampaio, ao afirmar que se
entendemos que a função principal da escola está no trabalho com o conhecimento, isto implica em
reconhecê-la como local de ingresso de crianças e jovens numa modalidade especial desse processo que
não começa na escola e deve prolongar-se vida afora (1995, p. 147).
Então vejamos, os alunos – sujeitos históricos e singulares – são confrontados na escola com uma
determinada ordem de conhecimentos – que nunca é algo final, pronto e definitivo – através de relações
escolares igualmente interessadas e específicas, as quais devem possibilitar que os alunos adquiram chaves
conceituais de compreensão de seu mundo e de seu tempo; assim, também, deve permitir que tomem
consciência das operações que mobilizam durante a aprendizagem, contribuindo para que prossigam na
relação de conhecimento, que é desvendamento, compreensão e transformação do que se dá a conhecer.
(idem:1995, p. 147)
Todos os aspectos assinalados exigem, para a consecução de um trabalho conjunto, um esforço por
estabelecer direção e condições mais seguras ao trabalho escolar, implicam superação de nossa atual
tradição de planejamento e desenvolvimento curricular predominante nas escolas públicas.
Esta compreensão do currículo é essencial para se pensar as questões relativas à Didática e ao
Estágio Curricular, pois estes ao mesmo tempo fazem parte dos “arranjos” curriculares no Curso do
Magistério, e de outro lado têm que lidar com o currículo no ensino da Educação Infantil e das séries
iniciais do Ensino Fundamental.

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O currículo e a qualidade na educação
A qualidade na educação deve ser definida no processo de planejamento da escola de modo a
permitir ir criando procederes discutidos, confrontados e arranjá-los tendo em vista um ensino crítico e
historicamente conseqüente.
O processo de planejamento precisa ter um sentido de trabalho coletivo, fruto de estudos, reflexões e
encaminhamentos em torno de uma concepção de homem, conhecimento, escola e sociedade que sustentem
ações críticas e produtivas para alunos e professores. Os saberes pedagógicos que temos que construir não
podem ser alcançados isoladamente, pois o trabalho escolar com o currículo tem uma natureza coletiva.
Apesar dos discursos pedagógicos inovadores envolvendo questões como gestão democrática da
escola, do currículo e interdisciplinaridade/multidisciplinaridade, a fragmentação do conhecimento e do
trabalho escolar continuam sendo o padrão predominante. A superação desta situação exige compromisso,
predisposição e discussão de nossas práticas atuais através de grupos de estudo colegiados e encontros
sistemáticos.
O coletivo da escola precisa então, criar oportunidades pelas quais se empreendam ações de
interrogação, compreensão e elaboração das práticas escolares. É nesse processo que se pode construir um
projeto político pedagógico que articule a construção do conhecimento. A centralidade deste projeto está na
gestão curricular. Por ele o currículo escolar torna-se, intencionalmente, um instrumento coordenador e
estruturador das atividades da escola e cada professor passa a dispor mais claramente de critérios para sua
organização.
A elaboração e o desenvolvimento do projeto político-pedagógico pode ter como ponto de partida
alguns questionamentos, entre eles: quais os problemas básicos enfrentados no ano anterior e que impediram
a realização de um trabalho pedagógico de melhor qualidade? Quais os índices de evasão e retenção na
escola? Quais as características do ensino na escola? Que concepção ou concepções de conhecimento temos
desenvolvido em nossas relações pedagógicas?
As considerações acima procuram resgatar a importância da gestão curricular na escola, portanto,
trata-se de pensar que as atividades que desenvolvemos cotidianamente estejam sendo “abordadas e
recriadas” em nome de um currículo emancipatório para os alunos e os professores, e não mais em nome de
interesses particulares, necessidades circunstanciais ou emergências escolares.
O ENSINO ESCOLAR: PROPOSIÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Escola e Conhecimento: a questão dos conteúdos de ensino
Conhecer é o processo e o resultado da ação dos homens sobre o mundo. Essa ação, busca atender
necessidades da existência social de seus criadores. Eles vão produzindo, historicamente, tanto as formas de
conhecer quanto determinados resultados.
Segundo LEITE, o conhecimento, embora geralmente entendido como realidade neutra, constitui
um processo. O conhecimento é simultaneamente processo de construção do real e produto, ou seja, um
corpo de informações sobre o real, sistematizado, elaborado, organizado.(1994, p. 12)
Quando se fala em conhecimento na escola é comum a sua identificação com uma forma já
elaborada, sistematizada, ou seja, um estado em que os seus produtores e as condições sob as quais foi
construído não aparecem na sua forma resultante de definições, conceitos, nomenclaturas, esquemas,
modelos de representação, etc. Por exemplo, pergunte-se sobre a fórmula química da água e obteremos, via
escola, como resposta que ela “é” H2O; ao que se pode contrapor que este é na verdade um modelo de
representação vitorioso sobre tantos outros modelos, o qual pode vir a ser superado por novas incursões
humanas sobre os objetos de interesse no campo de conhecimento da química. Trata-se de reconhecer que o
conhecimento resulta de um dinamismo caracterizado pela possibilidade do erro e do acerto, pelo
tateamento, pela existência de avanços e recuos e, acima de tudo, dinamismo marcado pelas perspectivas
do passado e do futuro (idem, p. 14).

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Para os professores e os alunos, compreender: a natureza processual do conhecimento é um aspecto
fundamental do trabalho escolar; orienta a seleção das fontes de estudo e informação e do tipo de atividade
mais adequada, e ainda esclarece sobre as possibilidades que ele tem de explicar, descrever aquilo a que se
refere. Ideologicamente esta compreensão tem um poder muito importante, o de desmistificar os
conhecimentos sistematizados e legitimados pelas instituições sociais, como se fossem desde sempre
seguros e verdadeiros.
A escola – local de operações específicas sobre o conhecimento
O ensino escolar implica, necessariamente na presença de certos conhecimentos organizados na
forma curricular e mais especificamente nos programas das séries e/ou disciplinas.
As explicações para a organização e desenvolvimento de certos conhecimentos em detrimento de
outros costumam reunir-se em que eles representam o que há de fundamental nos diferentes campos de
conhecimentos – produzidos como parte da vida social e cultural das sociedades -, sendo, por isso,
essenciais para a instrumentalização dos indivíduos na sua inserção na vida social. Apropriando-se dos
conhecimentos sistematizados os alunos estariam em condições de fazer a leitura adequada do ambiente e
das relações sociais.
Entretanto, não existe uma cultura da sociedade, unitária, homogênea e universalmente aceita e
praticada e, por isso, digna de ser transmitida às futuras gerações através do currículo. Em vez disso, a
cultura é vista menos como uma coisa e mais como um campo e terreno de luta. (Moreira,1994, p. 27)
Junte-se a esta concepção sobre a origem do conhecimento que se distribui na escola o fato de que a
seleção, a organização e o tratamento ao conhecimento dão-se também enquanto processos sociais e
culturais. Isto significa que mesmo que haja uma ligação dos conhecimentos transmutados em conteúdos
escolares, com certos campos de conhecimento como a literatura, a química, a física, a ecologia,
linguagens artísticas, etc., há uma radical operação de transformação destes para que se tornem conteúdos
escolares. Por exemplo, ao ensinarmos literatura na escola, predominantemente selecionamos da prática
social “do fazer literatura” aquilo que neste momento é tomado, aceito e, ou exigido como sendo o conteúdo
nuclear daquela prática; isto justifica(?) tomar-se apenas a produção (em verdade as obras) literária
socialmente valorizada por alguns grupos sociais, deixando-se de lado a literatura “marginal”, os processos
comerciais, políticos e econômicos aí envolvidos.
Outro fator que constitui esta operação diz respeito à necessidade de tornar os conteúdos
transmissíveis em situações que são próprias da escola, ou seja, o tempo, as relações de poder e de
conhecimento, padrões tradicionais de ensinar, ou, como afirma Sacristán, as condições institucionais da
escolarização.
Para Santos, uma didática crítica, que pense na educação como um processo emancipatório, estará
voltada para a produção do conhecimento escolar, considerando essa produção como trabalho coletivo.
(1994, p. 31)
Assumindo a condição de o conhecimento escolar ser também uma operação de significação, feita
na escola antes e durante as atividades de sala de aula, a autora argumenta da necessidade do conhecimento
escolar ser apresentado como um texto aberto que, por não estar completo, exige a participação dos alunos e
dos professores e não como uma mercadoria a ser consumida pelos alunos (idem, 1994, p. 31). A autora
identifica o conhecimento escolar que professores, livros e demais materiais didáticos apresentam hoje na
escola com a produção cultural veiculada pelos meios de comunicação de massa; neste processo é certo
que se põe obstáculo à apreensão das ambigüidades (e) contradições presentes na história da produção do
conhecimento científico. (ibidem)
O conteúdo de ensino como conhecimento escolarizado foi desmistificado pelos estudos da
Sociologia do Currículo como simplificação do conhecimento científico. Esta compreensão, ao invés de ser
vista como um problema a mais para a escola administrar, pode e deve ser percebida como a percepção mais
adequada daquilo que nós professores e demais agentes da escolarização vimos fazendo; ao identificar nossa
verdadeira prática em relação ao conteúdo do ensino poderemos criar alternativas de ação mais efetivas

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para a mudança, o que nos exige estudo e reflexão permanentes, para o que a organização institucional
escolar deverá estar voltada.
Que conteúdos auxiliam o ensino emancipatório?
O conhecimento representa sempre uma possibilidade de relação com o mundo e permite em algum
grau a sua compreensão e domínio. A pergunta acima formulada pede a retomada de princípios que se
formulam para o currículo escolar, os quais podem orientar aos professores em geral sobre a seleção e
organização de conteúdos de ensino das séries, áreas ou disciplinas.
Uma primeira questão quanto ao conhecimento escolar – os conteúdos de ensino – diz respeito a que
todo e qualquer conhecimento que se venha a desenvolver na escola seja parte de um conjunto de
conhecimentos que se articulem, signifiquem uns aos outros e tenham um horizonte de conhecimento
comum... que afinal, eles façam parte de um projeto curricular.
Quando perguntado sobre as prioridades a serem dadas a um currículo para as crianças de hoje, os
adultos do próximo século, Sacristán,(1997) afirmou que é pela educação para o presente, considerando as
lutas do passado para melhorar a condição humana, e ainda que podemos estudar as conseqüências de
certas ações passadas para evitá-las no presente. Portanto, deve haver uma preocupação quanto à dimensão
ideológica da seleção dos conhecimentos para o ensino; para que e para quem eles “servem”? Assim, um
aspecto essencial diz respeito às concepções que os conteúdos ensinados e articulados devem fornecer aos
alunos como forma de relacionarem-se com fenômenos naturais e sociais e consigo mesmos.
A disciplina Didática precisa incorporar uma abordagem do conhecimento na escola pela qual o
futuro professor visualize claramente a relação entre o caráter do conhecimento socialmente produzido e o
processo de formulação e desenvolvimento do currículo escolar, no qual os conteúdos de ensino adquirem
um primeiro sentido.
Um outro aspecto relevante que orienta respostas à questão enunciada sobre o que devemos ensinar
na escola implica em que o professor tenha condições pessoais e institucionais para refletir sobre o
conteúdo geral da(s) cultura(s), identificar o que vem trabalhando e o que pode ser modificado, tendo em
vista uma educação democrática. Sacristán chama atenção para certas invariantes culturais, que seriam
dimensões presentes em todas as culturas: têm uma estrutura e um sistema social, têm um sistema
econômico, formas de comunicação, sistemas racionais de explicação, tecnologias, códigos de valores ou
sistema ético, sistemas de crenças, formas de expressão estética e formas de se reproduzir biologicamente.
(idem, p. 40)
Um problema é apresentado por este autor, no que se refere às escolhas que fazemos do interior
destas invariantes, por exemplo: todas as culturas têm formas de comunicar-se, e isto compreende as línguas,
a publicidade, as linguagens matemáticas. Dentro destas possibilidades o que nós selecionamos para ensinar
na escola? Segundo ele, a resposta demonstraria o quanto as disciplinas clássicas (em nosso caso o
Português) não comportam parte essencial da cultura em sua extensão, o que leva a uma compreensão
parcial da invariante cultural “formas de comunicação”.
Se acreditamos que o currículo deve levar em conta que cultura é relevante para os alunos de hoje,
que cultura comum devem receber os estudantes de um país e o que podemos fazer para que a experiência
educativa não seja discriminatória para meninas, negros e pobres, etc.? (Sacristán, 1997, p. 38). Estamos
partindo de um critério que traz consigo inúmeras conseqüências metodológicas de trabalho para a escola,
entre elas a necessidade de um planejamento coletivo dos conteúdos de ensino bem como da atenção ao
tipo de oportunidades que iremos oferecer aos alunos para sua relação com este conhecimento. É da
reflexão conjunta, iluminada por finalidades educativas comuns que podemos melhor definir o que tratar
cada campo de conhecimento; por exemplo, qual o sentido e o que ensinar de Geografia, Matemática,
Literatura, etc.
Uma pesquisa sobre o currículo em ação em escolas públicas de São Paulo concluiu que se tem um
formato curricular detectado, que combina seriação e cadeia de conteúdos e objetivos por disciplinas,
organiza o ensino, mas não necessariamente o processo de aprendizagem: o ensino pode transcorrer à
parte da aprendizagem, independente das dificuldades dos alunos. (Sampaio, 1997, p. 64)

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É certo que, neste currículo, o aluno é figura ausente – concretamente – a não ser naquilo que se
espera ou que não tenha sido atingido por eles (idem, p. 54).
Um novo aspecto merece ser acrescentado como ponto de apoio para definir se o que ensinar aos
nossos alunos respeita seus saberes e experiências sociais, os quais, muitas vezes, comportam crenças e
ideologias conservadoras. Esta espécie de conhecimento – convencionalmente chamado de conhecimento
cotidiano – é aquele com o qual os alunos, em suas práticas de aprendizagem, dialogam, significam os
outros tipos de conhecimento que os professores apresentam. É novamente Sacristán quem nos ajuda a
perceber da necessidade de contemplar esta forma de conhecer no interior de nossa organização do trabalho
escolar. Ele sugere: é preciso estudar a cultura próxima – produzida nas vivências – para que compreendam
o presente e o mundo começando pelo que os rodeia; a relação pedagógica de ensino e aprendizagem
precisa produzir a análise das crenças sobre o cotidiano e tratar de introduzir nessas crenças um pouco
mais de racionalidade. Por último, os saberes advindos das vivências de cada aluno devem ser
ultrapassados, é preciso contemplar o quotidiano para transcendê-lo em direção ao universal. (39)
Há que se ressaltar que o cotidiano institucional é marcado por tradições educativas, marcas locais,
prescrições e normatizações, as quais sempre indicam para uma perspectiva de educação humana. É e será
sempre neste espaço, de negociação, de tolerância intelectual e ideológica que poderemos avançar para
práticas de gestão de relações criativas e democráticas com o conhecimento na escola.
O trabalho pedagógico com os conteúdos de ensino: considerações sobre o método didático
Um tema central para o trabalho docente e que vem sendo tratado historicamente pelo campo de
conhecimento disciplinar da Didática, está no ato pedagógico propriamente dito, em que estão envolvidos
diretamente alunos e professores e os conteúdos selecionados para o ensino.
As concepções sobre o conhecimento e sobre currículo anteriormente propostas exigem uma forma
distinta daquela que tradicionalmente orienta o ato pedagógico em nossas escolas: basicamente estruturado
em apresentação, exercitação e controle ou verificação do que foi assimilado. (Sampaio,1997, p. 53)
Como já foi destacado anteriormente, o aluno torna-se invisível no ato pedagógico, a não ser para
ser cobrado de algo para o qual pouco lhe ajudaram a construir. Esta prática teve muita contribuição na
própria teoria didática quando ela separou dois processos indissociáveis – o ensino praticado e a
aprendizagem que ele incita/promove – ou quando sob orientações tecnicistas desconheceu a natureza
cultural do ato pedagógico, e portanto política e social – e separou da sua análise conteúdo/método/sujeitos
da relação.
Considera-se fundamental que os professores encarregados dos conteúdos dedicados à questão do
ensino no Curso de Magistério rediscutam o tema relativo ao método didático. Auxiliados pelas reflexões
que Saviani (1994) desenvolve em torno da relação de ensino e aprendizagem, buscaremos dimensionar um
sentido dialético para o ato pedagógico.
Uma nova compreensão de método didático
A supremacia do conteúdo sobre o como ensinar, o império do método subordinando o conteúdo,
e/ou reducionismos na forma de conteúdo tomado como temas isolados, e método tomado como técnicas,
procedimentos e recursos. Estes problemas que Saviani aponta como manifestações do divórcio entre
conteúdo e método se expressam por listas de temas sem a devida orientação de como fazê-lo, quanto na
proposição de atividades que valem por si mesmas, independentemente do a que se referem ou do para que
se propõem. (Idem).
Se buscamos, pela relação pedagógica, que os nossos alunos realmente aprendam, faz-se necessário
superar a dissociação conteúdo/método. O conteúdo referenciado à experiência dos alunos, articulado e não
fragmentário supõe um tipo específico de trabalho em aula.
A relação pedagógica, assim, passa a ser construída no processo, pois é impossível definir a priori,
fora da própria relação, o ensino para um aluno que é concreto, e que exatamente por isso não pode ser
presumido pelo professor. A concepção de método é então de trajetória que supõe a mediação entre o
conhecimento elaborado (o objeto) e sua assimilação pelo aluno (o sujeito). (idem, p. 24)

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O método didático refere-se exatamente à trajetória resultante na busca da unidade do método de
ensinar e o método de aprender. Só é possível o aluno aprender, como um movimento de significação
interna, se estes dois processos estiverem efetivamente articulados no ato pedagógico. Para tanto o
professor precisa revisar com radicalidade sua forma de pensar o ensino; a autora em tela afirma mesmo que
ele precisa reaprender (às vezes mesmo aprender) a estudar, na perspectiva de quem se prepara para
ensinar (ibidem, p. 24).
Nesta perspectiva é tarefa do professor desvelar a estrutura do objeto (conteúdo) no sentido de
organizá-lo para fins da relação de ensino-aprendizagem, devendo então, refletir o movimento interno dos
conhecimentos. Pela indissociabilidade entre ensino e aprendizagem, deve ainda desvelar a estrutura do
sujeito para a compreensão de suas características lógico-psicológicas e sócio-culturais envolvidas na
organização intelectual do aluno necessárias à apropriação do conhecimento (ibidem, p. 26). Assim, a
relação conteúdo/método implica a relação objeto/sujeito.
O professor é o sujeito da relação pedagógica que põe em diálogo o conhecimento em sua
constituição histórica e em sua lógica, e o sujeito/aluno em sua condição cognitiva, política, econômica,
social e cultural. Como se pode observar, estas exigências estão distantes da tradição de nosso ensino, e
pedem condições institucionais que estimulem, viabilizem e exijam novas relações de ensino e
aprendizagem.
Questionando a Avaliação da Aprendizagem
Um professor de Didática avalia? Os professores se auto-avaliam? Quem avalia quem e o quê na
disciplina da Didática... e no Estágio Curricular? O que se faz no processo e com o produto de avaliação?
Estas e outras interrogações podem ser destinadas a outros professores e alunos, pois eles realizam
avaliações na sua vivência pedagógica.
Avaliar é um processo que constitui a ação dos homens sobre o mundo, no entanto, sob a forma
como vivenciamos hoje, tem suas raízes na construção e afirmação da sociedade burguesa. Assim, com
certeza, as formas de avaliação vigentes na escola não são invenções individuais de cada professor; os
padrões de avaliação refletem um longo percurso de construção histórica, e portanto coletiva. Neste percurso
eles adquirem distintas finalidades e formas de realização – de materialidade – por exemplo, mensuração,
descrição, julgamento, etc.
A um professor de Didática no Curso de Magistério, as interrogações acima formuladas cumprem
duas funções: por um lado elas dirigem-se a sua própria prática como professor que implementa avaliação,
por outro elas são parte do seu conteúdo de ensino. Abordar tais interrogações exige, pois, problematizar as
atuais práticas de avaliação no interior do processo de ensino e aprendizagem.
Como já abordamos anteriormente neste texto, as práticas escolares de ensino e aprendizagem
vigentes na maioria das escolas permitem constatar certas características: centralidade no poder do
professor; tempo e espaço rígidos para o ensino e a aprendizagem; desarticulação entre os conhecimentos
tratados; predomínio do trabalho individual dos professores, entre outras. Tal padrão de ensino compõe um
“cenário pedagógico” no qual avaliar é um processo nas mãos do professor, orientado para resultados de
um processo de ensino, e não de aprendizagem, e onde a moeda corrente é a NOTA.
A análise de possibilidades de aprendizagem permite identificar com base em Darsie (1994) duas
dimensões, recepção-repetição e significação e, nelas um lugar particular da avaliação.
A primeira inscreve-se num contexto de ensino em que é apresentado um conteúdo, em ritmo
contínuo e orientado centralmente por necessidades do professor e alheias aos alunos, que cumprem rotinas
de elaboração de trabalhos sobre os quais pouco ou quase nada operam intelectual e culturalmente, repetem
em testes e provas, definições, terminologias, etc. Representam uma reprodução mais ou menos perfeita do
que foi apresentado por critérios administrativo-burocráticos da escola. A avaliação cumpre a finalidade de
controlar os resultados da aprendizagem, tem fins de classificação dos alunos para localizá-los no fluxo
escolar.
À segunda corresponde um contexto de ensino no qual os conhecimentos dos alunos e aqueles
propostos pela escola são postos em diálogo, pois que aprender um conteúdo implica atribuir-lhe um
significado, construir uma representação ou um “modelo mental” do mesmo. (Coll, apud Darsie, 1994, p.

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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49) Para o professor tal avaliação auxilia a preparar-se, construir situações e adequar permanentemente a
trajetória de trabalho em tal direção, neste sentido a avaliação cumpre outras finalidades para o professor e
o aluno.
Como contribuição ao método de ensinar ela deve fornecer informações dos alcances e das
necessidades dos alunos, e assim pode orientar a organização do professor. Auxiliando no desenvolvimento
do aprender, a avaliação deve indicar o mais próximo possível ao aluno sobre suas condições,
instrumentalizando-o para esforços e localização frente aos conhecimentos. Afinal, a situação mesma de
avaliação – a realização de provas, a produção de trabalhos, a participação em aula, etc. – pode funcionar
como momento de aprendizagem, conquanto se apresente como situação de elaboração sobre o
conhecimento. De classificatório o processo de avaliação converte-se em instrumento do ensino e da
aprendizagem, superando o papel de figura sinistra do trabalho escolar para os alunos.
A seguinte citação de Sacristán define uma finalidade didática de caráter crítico para a avaliação:
o grande valor da avaliação está, por um lado, em ser instrumento de investigação didática:
comprovar hipóteses de ação metodológica para ir acumulando recursos de uma eficácia
comprovada na ação e ir engrossando desta maneira o conjunto de técnicas pedagógicas
fundamentadas cientificamente e, por outro lado, perante o aluno, está em dar uma informação que
lhe ajude a progredir até a auto-aprendizagem, oferecendo-lhe notícia do estado em que se
encontra e as razões do mesmo, para que colha ele mesmo esse dado como um guia de autodireção,
meta da educação. (apud Darsie, 1996, p. 51)
Com certeza um modo de ensinar, de organizar o trabalho pedagógico está sempre associado a uma
forma de avaliar. Nas atuais condições de trabalho da escola pública o professor de Didática observará que
muito está por ser construído, pois o padrão de trabalho fragmentário e desarticulado reforça a perspectiva
de avaliação como controle e classificação. Aqui, o conhecimento é concebido como um dado, como se
pudesse ser retransmitido no ato pedagógico sem sofrer a ação do professor e do próprio aluno.
Parece-nos que cabe aqui retomar a questão do estudo, do reaprender do professor, em relação ao
processo de ensino e aprendizagem.
Realidades institucionais burocratizadas, políticas pedagógicas desligadas das necessidades práticas
do trabalho escolar configuram-se em bom espaço de sustentação de padrões de ensino e aprendizagem
conservadores, e nestes dificilmente teremos incentivo e cobrança a novas atitudes profissionais dos
docentes, de onde a avaliação resultante seja informativa a professores e alunos em seus percursos distintos
no trabalho pedagógico.
ESTÁGIO CURRICULAR
Para compreender o Estágio Curricular como uma disciplina que permeia o Curso de Formação de
Professores, como este se materializou, e propormos alternativas e possíveis caminhos para o seu
desenvolvimento, sendo coerentes com a Proposta Curricular, no ensino de Didática se faz necessário,
refletirmos, através de um breve histórico, como este se apresentou nas últimas décadas, e as formas que
vem desenvolvendo até hoje.
Segundo Pimenta (1994, p. 32-50), percebe-se que a prática presente dos Cursos de Formação de
Professores, até o fim dos anos 60, era o da prática como imitação de modelos teóricos existentes. Não
havia, por exemplo, a preocupação de distinguir os diferentes contextos escolares. Uma prática docente
podia ser considerada pela observação e reprodução de “bons modelos”.
No que se refere à profissão do professor, segundo Pimenta (1994, p. 29), as conseqüências da
feminização tratava-se de uma ocupação e não propriamente uma profissão, exercida por mulheres cuja
característica marcante era ser uma extensão do lar. Era uma missão digna para as mulheres, contribuindo
para a desvalorização relativa da profissão.
Por outro lado, diversas pesquisas permitem afirmar, de acordo com Pimenta (ibidem, p. 34) que:

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
84
a escola primária tem sistematicamente trabalhado com a criança que ela idealmente concebe.
Portanto, não com a criança que natural ou culturalmente já está à margem do processo de
escolarização. E, é nesse espaço que se materializa uma prática (estágio) cujo ponto de partida são
os modelos para ensinar. Se as crianças não aprendem o problema é delas.
Em síntese, nesse contexto, espera-se do professor que reproduza e exercite os modelos. A essa
altura, é possível perceber que o exercício do magistério não corresponde exatamente a uma profissão.
Como decorrência, a prática profissional, como parte da formação, não se colocava como necessária, ao
menos até os anos 60, já que não se tratava propriamente de uma profissão.
Conforme resultados de pesquisas realizados por Pimenta (1994, p. 40-47), no final da década de 60,
em oito estados brasileiros, constatou-se que a observação e regência nos estágios é pouco significativa.
Neste sentido, a pesquisadora propõe
que prática em seu sentido amplo seja dominante e absoluta, pois da realidade virão os problemas
a serem analisados . Quanto aos métodos e recursos a serem utilizados na escola primária, devem
ser vividos intensamente com as adaptações necessárias nos cursos de formação de professores, nas
várias disciplinas, e não apenas na Prática de Ensino.
Passada a década de 60, com a implementação da Lei n.º 5.692/71, o Curso Normal, conforme
enfatiza Pimenta (47), fica reduzido e resumido a um apêndice profissionalizante no 2º Grau. Como se isso
não bastasse, a solução curricular que foi proposta, na prática, concorreu para dissolver o pouco de
especialidade que restava no Ensino Normal.
Há que se mencionar também o Parecer CFE nº 349/72 que primeiro situa a Didática para
fundamentar a Metodologia de Ensino conduzindo a Prática de Ensino e com ela identificando-se sob a
forma de Estágio Supervisionado, referencia ao local onde será realizada a Prática de Ensino (nas escolas da
comunidade), deixando claro que escolas da comunidade podem ser rede pública ou privada, Pimenta
(ibidem), comentando o referido Parecer, afirma de novo a prática como a reprodução do existente (mas
apenas do positivo). Conforme o Parecer 349/72, o estágio é a prática, a Didática é a teoria prescritiva da
prática. Mantém-se a dissociação entre ambas, embora se diga o contrário.
Sob a ótica de Candau (1995, p. 51), verificam-se três características na Habilitação Magistério:
falta-lhe identidade; há um esvaziamento de conteúdo; é habilitação de segunda categoria.
Outras pesquisadoras trazem à tona a desarticulação do trabalho curricular da Escola Normal com a
realidade da Escola Primária. Segundo estas, a expansão quantitativa da escolaridade trouxe para as séries
iniciais os alunos das camadas populares, cuja “psicologia da aprendizagem”, cultura, valores e ideais não
estão explicados nas teorias freqüentemente trabalhadas nos Cursos de Formação.
No contexto dos anos 80 registram-se movimentos dos educadores, entre estes, o reconhecimento da
escola enquanto instituição social com a função de produção e difusão do saber historicamente acumulado,
como trabalho de oportunizar aos alunos a transformação da sociedade numa sociedade mais justa. À
escola, enquanto espaço de uma das práticas sociais, a educação escolar, cabe “traduzir” no seu trabalho as
condições que irão viabilizar a aprendizagem do conhecimento e do desenvolvimento necessários a uma
inserção social crítica.
Cabe-nos situar o papel do professor neste contexto como aquele que fará a mediação no acesso ao
conhecimento das relações sociais, as quais não se manifestam explicitamente. Para tanto se faz necessário que
em sua formação-ação tenham adquirido aguda consciência da realidade e sólida fundamentação teórica que lhes
permita interpretar e direcionar essa realidade, além de suficiente instrumentalização técnica para nela intervir.
De novo a imitação de modelos. Conhecer a realidade (verdadeira), mas a boa (positiva). A partir da
contextualização da Habilitação ao Magistério na década de 80 é possível, com base em diversas pesquisas,
sintetizar em breves itens a crítica necessária. Ainda permanecem nós que se mostram como desafios à
superação, vejamos, as considerações feitas por Candau (idem, p. 1995):
O Curso do Magistério permanece com conteúdos e formação rarefeitos. Não oferece nem
formação geral nem base sólida para a formação profissional;

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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A Habilitação Magistério descaracterizou a identidade do Curso de Formação de Professores. Seus
alunos e professores não tem clareza de que se trata de um ensino profissionalizante para o
Magistério das séries iniciais;
A Habilitação Magistério é tida como um curso de “segunda categoria”, para a qual se dirigem os
alunos (em geral mulheres) com menos potencial intelectual;
Dissociada do exercício profissional, a Habilitação Magistério não apresenta nenhum compromisso
com a democracia da escolaridade e da sociedade. (51-52)
No que se refere aos estágios, não são poucas as denúncias que as pesquisas apontam. Para se ter
uma idéia, observamos as conclusões de Lelis (1993) e da Secretaria da Educação do Paraná (1989) (apud
Pimenta, 1994, p. 67-72):
os conhecimentos veiculados estão fundados no ideário escolanovista e no discurso tecnicista
descontextualizados, sem relação com a realidade que os estágios captam. Os conteúdos são
apresentados como receitas ou modelos acabados, não se considerando os problemas sérios que se
defrontam os professores primários. Dificuldade de acompanhamento do estágio os estagiários, em
sua maioria, não são bem recebidos pelos professores de 1ª a 4ª séries, falta comprometimento dos
professores do curso com o estágio; a responsabilidade pelo estágio é exclusiva do professor de
Didática. O Estágio é visto como pólo prático do curso e como atividade terminal, dificuldade de
garantir a relação teoria/prática, divisão do estágio em etapas fixas e estanques: observação,
participação e regência, restrição à etapa de observação, ficando o aluno apenas como visitante;
transformação do estágio em atividades burocráticas de preenchimento de fichas, correções de
cadernos, etc. falta de integração entre escola de magistério e escola de 1º Grau.
A realidade apontada pelos estudos acerca do estágio exige dos profissionais da educação a
apropriação do conceito de estágio que aí se materializa. Há que se dar conta de responder – o que se
entende por Estágio? Que estágio?
Neste sentido, registramos para reflexão fragmentos de investigações assinaladas por Domingo apud
Pimenta (1994, p. 65), os quais se reafirma a urgência de tomada de posição.
Avaliemos algumas conclusões a partir de diferentes estudos: o curso não forma adequadamente porque é
fraco teórica e praticamente, isto é, não assume a formação de um profissional para atuar na prática social.(55)
Esta perspectiva que coloca as questões práticas como determinantes na formação teórica tem como
conseqüência, segundo Pimenta, apud Domingo: 1990, p. 65,
A manutenção da separação entre a teoria e as questões práticas. Seu propósito é construir uma teoria
descritiva sobre os assuntos sociais, e portanto, se mantém separada das situações sociais mais amplas.
A questão não é aumentar a prática em detrimento da teoria ou vice-versa – o problema consiste em
adotarmos uma nova forma de produzir conhecimento no interior de cursos de formação do educador.
Qual então, o primeiro passo na direção da construção do Estágio Curricular, onde teoria e prática
sejam indissociáveis? Como superar a visão dicotômica historicamente registrada, na relação teoria e
prática? Quais caminhos poderão instrumentalizar uma relação de reciprocidade e ao mesmo tempo de
autonomia entre a prática e a teoria?
De acordo com Pimenta apud Candau, (1995) & Lelis (1994), o fazer pedagógico, o que ensinar e
como ensinar deve ser articulado ao para quem e para que, expressando a unidade entre os conteúdos
teóricos e instrumentais do currículo uma práxis criadora.
A partir da perspectiva de que teoria e prática são o núcleo articulador da formação, portanto numa
concepção dialética, a prática (a análise teórica da prática) é o ponto de partida e de chegada. Tal proposta,
por nós reafirmada, é de Fávero (1992, p. 19) que embora, não trate do Curso de Magistério
especificamente, contribui, sem dúvida, para darmos conta da nossa problemática. A autora supracitada
ainda acrescenta: É, sobretudo, comprometendo-se profundamente como construtor de uma práxis que o
profissional se forma. Ou nos termos de Pimenta (ibidem):

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
86
O professor é o ser da práxis. Na sua atividade, ele traduz a unidade ou o confronto teoria e
prática, o seu compromisso, enfim, com sua práxis utilitária ou criadora, num projeto integrado e
integrador entre as disciplinas do Curso, sob a forma de colegiado para a organização de todas as
etapas que envolvem o Estágio.
Os encaminhamentos metodológicos propostos, conforme nos auxilia Pimenta (1994, p. 181-187),
apontam as seguintes atividades para o desenvolvimento do Estágio Curricular: pesquisa-ação:
identificação, estudo, intervenção; diagnóstico, elaboração e execução de projetos; cursos de pequena
duração organizados e desenvolvidos pelos estagiários para professores das séries iniciais; oficina de
material didático; um encaminhamento temático a ser desenvolvido em cada uma das quatro séries do
curso... etc.
A partir de 1991, a Secretaria de Estado da Educação e Desporto, vêm reorganizando o currículo do
Curso de Formação de Professores no Ensino Médio em Santa Catarina, quanto à seus pressupostos teóricometodológicos,
fundado no materialismo histórico que se concretizou na implantação de duas grades
curriculares (Parecer nº 201/90/CEE e Parecer nº 527/95/CEE). Este processo de reorganização exige,
constantemente, um olhar permanente e reflexivo sobre o que seja a prática de ensino.
Neste sentido cabe-nos revisar, reorganizar e refletir sobre o Estágio Curricular que vem sendo
desenvolvido. Percebemos que o mesmo não contempla as reais necessidades de apreensão de
conhecimentos que possibilitam a inserção e a intervenção na prática pedagógica.
Estágio como espaço de construção de conhecimento e transformação – olhares que
observam,
. sujeitos que interagem e refletem,
. registros que instrumentalizam,
. situações vivenciadas,
. histórias/competências construídas
A formação do professor é hoje compreendida como processo contínuo de profissionalização, em
que a formação inicial é simplesmente o primeiro momento. O conhecimento profissional do docente é
concebido como em estado de contínua construção e aperfeiçoamento, pelo desenvolvimento acelerado do
conhecimento social, bases do conhecimento escolar, bem como das estruturas materiais e institucionais da
sociedade, com reflexos significativos nas formas de pensar, agir e sentir das novas gerações de alunos.
A educação é profundamente determinada por concepções de escola, ensino, conhecimento,
produção, transmissão e aprendizagem, relação teoria/prática, cultura e sociedade .
Sob estes pressupostos nossa perspectiva concebe o trabalho docente como práxis, onde a unidade
teoria/prática se caracteriza pela ação/reflexão/ação; o professor aprende, compreende e transforma a
situação de ensino e ao mesmo tempo é transformado por ela. Entendemos que a Didática participa da
construção desta práxis docente criadora quando possibilita aos alunos do Curso de Magistério
compreender a prática pedagógica presente nas instituições escolares.
Acreditando, então, que a construção e produção de conhecimento se dá nas relações – ou melhor,
nas interações que se estabelecem entre sujeito/meio/objeto do conhecimento – faz-se necessário, na
formação do professor uma fundamentação teórica que possibilite condições reais de resgatar o que o sujeito
sabe, pensa, reflete e transforma.
Neste sentido nosso desafio é formar/informar, em um processo de acompanhamento permanente,
um sujeito/aluno que constrói seus caminhos para a apropriação da sua história, pensamento, teoria e
prática. Em Freire (1996, p. 9), se afirma o movimento onde
O criar, o sonhar, o inventar, possa ir sendo instrumentalizado por um educador. Possibilitando
assim, um pensar e um fazer criativo diante dos grandes desafios, na construção deste educador
pesquisador que faz ciência de educação. Fazer ciência exige exercício metodológico sistematizado,

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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rigoroso, de: observar, refletir, avaliar, e planejar. São estes que alicerçam sua pesquisa, luta
cotidiana, permanente.
Todo ato de educar sedimenta-se num método. Como maneira de ordenar e organizar a ação
pedagógica segundo pressupostos este método está sempre relacionado a uma concepção de sociedade e
política.
O professor faz política a todo momento, pois em educação estamos implicados diretamente em
projetos de sociedade. Faz ciência quando apoiado num método científico de investigação pedagógica. Faz
arte porque no cotidiano enfrenta-se com o processo de criação na sua prática educativa, lidando com o
imaginário e o inusitado. Em educação a ação criadora envolve o estruturar, dar forma significativa ao
conhecimento, transpondo certas possibilidades nossas e dos nossos alunos para o campo do possível, do
real.
Aprendemos a pensar junto com o outro. Aprendemos a ler, a construir novos conhecimentos através
de interações. Aprendemos a escrever organizando nossos conhecimentos no confronto com o outro.
Aprendemos a refletir estruturando nossos conhecimentos na inter/ação e troca com outros. A ação, a
inter/ação e a troca movem o processo de aprendizagem, portanto, a função do educador é interagir com seu
aluno para mediar a troca e a busca do conhecimento.
Segundo Borba (1997, p. 48),
desenvolvimento do estágio propõe reflexões, procura de subsídios teóricos que venham embasar
na prática o desenvolvimento da ação educativa. O cotidiano da escola refletido, é um dos possíveis
caminhos para o desenvolvimento de pesquisa que nos oportunize pensar e repensar (refletir) nossa
ação, nossas dúvidas e preocupações com o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
Entendemos o estágio como um dos espaços de construção dos saberes pedagógicos nos cursos de
formação docente. Sua prática envolve observação, reflexão e (re)organização das ações. Estas
características colocam os estagiários próximos à postura de um pesquisador, como quem investiga e
prescruta um terreno preocupado em aproveitar as atividades comuns da escola e delas extrair respostas que
orientem sua prática pedagógica com os alunos.
A observação, na perspectiva de Freire (1996), surge como a construção do olhar sensível e
pensante, não um olhar antecipador; aquele que leva interrogações e pode acrescentar, sobre estas, outras. O
ver e o escutar fazem parte do processo de construção desse olhar. A ação de olhar e escutar implica esforço
de sair de si e ver o outro e a realidade.
Só podemos olhar o outro e sua história se temos conosco mesmos uma disposição de aprendizes,
que observam e estudam a sua própria história.
O ato de observar envolve a reflexão, a avaliação e o planejamento que se intercruzam num
movimento (dialético) de pensar a realidade. O ato de observar uma situação pedagógica implica não invadir
o espaço do outro sem direção, sem objetivo, mas com um “projeto” que oportunize continuidade,
conhecimento. Então observação, registro, reflexão, avaliação e planejamento passam a constituir
instrumentos metodológicos da inserção e intervenção na escola, o ato de refletir é libertador porque
instrumentaliza o educador no que ele tem de mais vital: o seu pensar. Educador algum é sujeito de sua
prática se não tem apropriada a sua reflexão, o seu pensamento. (Freire,1996, p. 39).
No exercício da reflexão surge a necessidade de fundamentar-se teoricamente, então refletir passa a
ser também, um instrumento dinamizador entre teoria e prática; conduz a uma ação transformadora
comprometendo-nos com nossas opções, desejos, enfim nossa história.
Como prática educativa, o estágio curricular, precisa ser documentado, registrado, pelo que
deixamos nossa marca, armazenando informações fecundas da realidade, do objeto em estudo e daí
podermos refleti-lo, pensá-lo e assim apreendê-lo. Este movimento permite construir um conhecimento
pedagógico que muitas vezes sequer se imaginava possível.
A reflexão e o registro do pensamento é empreendimento para todos: estagiários,
professor/supervisor, professor da classe de estágio, principalmente; em espaços diferenciados cada um

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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pensa, escreve a prática e pode fazer teoria, e onde o registro da reflexão expressa o pensamento como
instrumento fundamental da mudança e apropriação da história de educação que cada um está realizando.
Propondo alternativas metodológicas
A idéia de construção de uma proposta de organização do trabalho pedagógico a ser desenvolvido
nos Cursos de Formação de Professores, através do Estágio Curricular, requer instrumentos metodológicos
que possibilitem a construção e a ampliação do conhecimento e de pesquisa da realidade educacional, não
como um modelo único mas como possibilidades de inserção e intervenção na prática pedagógica.
Conforme encaminhamentos metodológicos anteriormente citados e propostos por Pimenta (1994),
como possíveis atividades a serem desenvolvidas no estágio destacamos a metodologia de projetos que vem
ao encontro de expectativas e anseios de se estabelecer a imbricação teoria/prática, a reflexão/ação, e a
construção do conhecimento através de um movimento contínuo de apropriação e transformação da prática
pedagógica.
Nesse sentido, Freitas (1987, p. 138) propõe:
Vivenciar a prática pedagógica com um projeto histórico claro, sem aprisionar a prática com a
imposição de esquemas estruturantes; buscar apoio interdisciplinar; gerar problemas significativos
de pesquisa que permitam extrair categorias em direção ao abstrato para empreender o regresso ao
concreto real talvez (e apenas talvez) possa ser um bom palpite – ou uma possibilidade de estágio
(grifo nosso).
Tentaremos explicitar a citação de FREITAS: quando diz vivenciar a prática pedagógica quer dizer:
inserir, intervir, conhecer, observar, refletir, atuar, avaliar, registrar, repensar (etc.) sobre a prática
pedagógica desenvolvida nas escolas; quando fala de esquemas estruturantes, lemos crítica aos modelos
prontos e acabados, a reprodução de conhecimentos; de apoio interdisciplinar, lemos necessidade de
planejamento, organização estrutural com o coletivo da escola, reunindo professores do curso
(metodologias, fundamentos, didática, estágio curricular, etc.), estagiários, especialistas, escola envolvida no
estágio, etc.; de extrair categorias entendemos como conhecer, perceber, observar, captar, o real do cotidiano
escolar e desenvolver temas, práticas, conceitos, conteúdos que sirvam de suporte para inserção e
intervenção na prática, para o exercício da docência.
Projeto histórico claro como intencionalidade a ser desenvolvida em qualquer nível de escolaridade,
disciplina ou realidade educacional, atendendo aos aspectos significativos que envolvem a complexidade
dos contextos escolares.
O desenvolvimento de projetos significativos, intencionais, organizados e objetivados com o
movimento histórico e a construção de conhecimentos, rompe com a atual organização do trabalho
pedagógico: a fragmentação do conhecimento, as práticas autoritárias, as tarefas mecânicas e repetitivas, o
trabalho individualizado e competitivo, a banalização e infantilização do conteúdo e as práticas de avaliação
que reforçam o processo de seleção e eliminação de grande número de crianças na escola.
A metodologia de projetos possibilita o resgate do trabalho interdisciplinar que envolve o coletivo
da escola num processo de intencionalidade e instrumentalização, objetivado de acordo com a realidade,
gerando projetos significativos e de efetiva aplicabilidade no contexto educacional, atendendo as
especificidades de níveis, disciplinas e conteúdos a serem trabalhados.
A inserção e a intervenção no cotidiano escolar por meio deste instrumento metodológico deve
possibilitar o exercício da docência para além da reprodução, da informação meramente transmitida aos
alunos, pois há no desenvolvimento dos conteúdos a serem trabalhados preocupações quanto: ao objetivo
deste trabalho; ao objeto do conhecimento, ao conteúdo (os saberes escolares); aos sujeitos cognoscentes
que interagem e medeiam conhecimentos (professor/aluno – aluno/aluno – aluno/professor); a realidade
contextual (meio que interfere e media); ao momento histórico vivenciado (contextualização histórica); ao
ensino e aprendizagem (construção de conhecimentos) que se desenvolvem com este trabalho; e as formas
de como se poderá avaliar, acompanhar (re/significar) esta construção de conhecimento.

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
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NORTEAMENTO CURRICULAR
A escola só pode cumprir seu papel de forma competente se tiver autonomia.
Isto é, se os que nela atuam e os que dela se beneficiam puderem definir,
construir seu próprio caminho pedagógico, condição fundamental para que se
sintam comprometidos com ele. (Maria Alice Settubal)
Entender que a função principal da escola é o trabalho com o conhecimento
é uma posição que tem determinadas conseqüências. Significa reconhecer a
escola como local de ingresso de crianças e jovens numa modalidade
especial desse processo que não começa na escola e deve prolongar-se pela
vida afora... (Maria das Mercês F. Sampaio)
O norteamento curricular para o desenvolvimento do trabalho pedagógico em Didática e Estágio
Curricular envolvendo temas organizadores é um desafio ao conjunto dos professores e demais agentes
escolares. Ao invés de indicar desde já um roteiro/ programa para a disciplina e a prática de estágio, aponta
temas que se considera neste momento dar-lhes sentido a partir do entendimento acima explicitado.
Os temas organizadores objetivam nortear teórica e metodologicamente a práxis educativa dos
professores de Didática e Estágio Curricular do curso de Magistério-Educação Infantil à 4ª série do Ensino
Fundamental. Procuram delimitar o objeto da Didática – o ensino, e tornar significativo o processo ensino e
aprendizagem nas relações que perpassam a formação de professores. Entendemos que são indicadores na
organização e sistematização dos conteúdos de ensino destes campos disciplinares e conseqüentemente de
cada professor e implicam em (re)dimensionamento das atuais práticas institucionais e docentes.
Isto, certamente terá maior viabilidade quanto mais disposições políticas se efetivem em medidas
de planejamento e reflexão contínuas do conjunto dos professores e os demais envolvidos no trabalho
escolar. Direcionando estes esforços é preciso construir uma concepção de educação que se assume prática
social histórica e contraditória e, que por isso mesmo, pode ser modificada.
TEMAS ORGANIZADORES
A escola e o trabalho pedagógico
A produção do conhecimento na/pela escola
As relações pedagógicas e a organização da prática
Estágio curricular: situação de relação com práticas escolares
Sub-temas:
1. Função social da escola/finalidades educativas/condições singulares de cada escola
2. Organização, prática curricular e projeto político-pedagógico na escola
3. O processo de desenvolvimento do ensino escolar: proposição e desenvolvimento
- Conhecimentos/conteúdos de ensino
- Método didático
- Avaliação
- Articulação e continuidade do trabalho pedagógico: o processo de planejamento de ensinoaprendizagem
4. Inserção na prática pedagógica escolar
- Relação interinstitucional: as dimensões ética/pedagógica
- Planejamento pedagógico do estágio

PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
90
- Articulação dos processos de observação/registro/estudo e reflexão durante a inserção no contexto
escolar do estágio.
BIBLIOGRAFIA
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Florianópolis, 1995. (dissertação de mestrado)
BORBA, Margarida Emmerich. Construindo uma Pesquisa no Trabalho Docente. Dissertação de Mestrado.
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DARSIE, M. M. P. Avaliação e Aprendizagem. In: Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas, 1996 (99), p. 47-59.
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PROPOSTA CURRICULAR (Didática e Estágio Curricular)
91
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Paulo: EPU,1990.
SMOLKA, Ana Luíza B. (org.) A significação nos espaços educacionais: Interação social e sujetivação. Campinas,
SP: Papirus, 1997.
VEIGA, Ilma P. Alencastro (org.) Técnicas de Ensino: Por que não? 4ª ed. Campinas, SP : Papirus, 1996.
GRUPO DE TRABALHO
ANA RITA DE SOUZA – 7ª CRE – UNIPLAC
DAISY WEINGARTNER MACHADO – 10ª CRE
IRMA MARIA SALVADOR – 19ª CRE – FERJ
LUCIA MARIA DOS SANTOS – 3ª CRE
MARIA DA GRAÇA TROIS GOMES MONTEIRO – IEE
MARGARIDA EMMERICH DE BORBA – 13ª CRE – UNIVALI
MARIA BENEDITA DE PAULA E SILVA POLOMANEI – 18ª CRE – UNC
MARISTELA APARECIDA FAGHERAZZI – SED/DIEM
COORDENAÇÃO
MARISTELA APARECIDA FAGHERAZZI – SED/DIEM
CONSULTORIA
VÂNIA BEATRIZ MONTEIRO DA SILVA – UFSC

domingo, 30 de outubro de 2011

DIDATICA - FERRAMENTA DO PROFESSOR

artigo
DIDÁTICA: ferramenta cotidiana do professor
DIDÁTICA: ferramenta cotidiana do professor
Didática é a Ferramenta cotidiana do professor.
A Didática Geral é uma ciência teórico-prática que pesquisa, experimenta e sugere formas de comportamento a serem adotadas no processo da instrução, com vistas à eficiência e eficácia da ação educativa.
A Didática é a ferramenta cotidiana do professor e, como tal, está em contínua evolução, razão porque os conteúdos deste curso destinam-se não só a reforçar os conceitos fundamentais dessa disciplina mas, sobretudo, aperfeiçoar e atualizar o professor pelo conhecimento de novas técnicas que possam vir a ser utilizadas em sala de aula.
Didática tem origem no idioma grego; provém de didaktiké significando a arte (maneira) de ensinar ou instruir. É uma ciência teórico-prática, que pesquisa e experimenta novas técnicas de ensino e sugere formas de comportamento a serem adotadas no processo da instrução. Correlaciona-se a outras, em especial à Psicologia, Sociologia, Filosofia e Biologia.
Como toda ciência, a Didática é aberta às novas descobertas que enriquecem o saber humano. Assim, a Didática contemporânea faz ver ao educador certos conceitos novos ou novas abordagens desses conceitos, por isso é sempre importante para o educador estar se reciclando, enriquecendo-se.
A instrução é um conjunto de eventos planejados pelo professor com o fim de iniciar, ativar e manter a aprendizagem.
A aprendizagem consiste em uma mudança no comportamento do aluno em face do processo da instrução e é o resultado desse processo que, para ser eficiente, precisa ser planejado.
O planejamento da instrução é um processo de tomada de decisões que visam à racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino-aprendizagem. Este planejamento envolve, pelo menos, três fases: elaboração, execução e avaliação.
A fase de elaboração compreende quatro etapas: formulação dos objetivos, seleção dos conteúdos, seleção das estratégias e seleção das formas de avaliação da aprendizagem.
Na fase de execução, aplicam-se as estratégias instrucionais na situação de ensino-aprendizagem e, na fase de avaliação, verifica-se o atingimento ou o não-atingimento dos objetivos, de sorte a reelaborar o planejamento, caso isto seja necessário.
O planejamento da instrução é tarefa obrigatória do professor, que oferece maior segurança para o atingimento dos objetivos e verificação da qualidade e quantidade do ensino que está sendo orientado.
Aluno é o componente básico do processo de instrução, pois é ele quem aprende. Ao professor cabe a função de planejar o ensino, propiciando condições para que a aprendizagem se realize.
A aprendizagem é o resultado do processo da instrução e consiste em uma mudança no comportamento do aluno em face do processo de instrução.
Instrução, por sua vez, é um conjunto de eventos planejados para iniciar, ativar e manter a aprendizagem.

Prática de EnsinoDe todas as atividades da sociedade, o magistério foi a que mais sofreu deteriorações. O professor foi vítima da falta de compreensão, por parte das autoridades governamentais, do papel que desempenha na sociedade. Ensinar quer dizer guiar, estimular e orientar o processo de aprendizagem. A transmissão do ensino não pode ser conformista e acomodada. Deve ser um esforço pessoal e técnico, competente no seu trabalho específico. O ensino deve despertar o interesse pelo conhecimento e estimular o impulso natural de aprender.
O problema da formação do professor do Ensino Fundamental e Ensino Médio é da maior seriedade. Os professores das séries iniciais têm seus conhecimentos pedagógicos prejudicados porque os cursos de Pedagogia ( Art. 64 da Lei 9394/96 ) não são ministrados com a necessária profundidade e atualização. Com isso, o aprendizado ficou comprometido e a escola tornou-se passiva e enfadonha. As fontes de motivação dos alunos e dos professores foram aos poucos minguando.
A parte mais nobre e fundamental da educação, que é o contato direto e íntimo com a criança, foi desvalorizada. Não é menos verdade que os professores aceitaram com relativa passividade a degradação da qualidade do ensino, da sua renda e prestígio social, assim como não demonstraram interesse em desenvolver suas aptidões e capacidades. Por outro lado, o educador é sempre movido pelo ideal de servir.
Este artigo visa conscientizar o educador da grandeza de sua profissão para que atue como incentivador de idéias. Para o professor consciente de seu papel de protagonista no processo educacional, leva à reflexão sobre a importância de colocar suas habilidades em prol do aluno.
Este estudo surgiu da observação dos aspectos legais, da atuação como docente da Educação Básica e Universitário. A partir desta observação, constata-se que as deficiências do professor em sala de aula são múltiplas e refletindo sobre a atuação deste profissional procuramos literaturas pertinentes a metodologia e prática de ensino, tais como: decretos, leis, pareceres, resoluções, indicações, deliberações, livros didáticos e paradidáticos, revistas e jornais especializados, artigos, ensaios e materiais pedagógicos, bem como relatos de profissionais na área de educação, alunos e pais, que possibilitaram o entendimento e a reflexão na concepção deste trabalho. É um trabalho didático porque discute a postura do professor em sala de aula, explica uma metodologia e sugere atividades. A instrução não pode ser mecânica e arbitrária. É preciso que ajudemos a criança a encontrar significado no aprendizado. Sendo assim, o professor deve adotar procedimentos facilitadores da aprendizagem.
A aula expositiva tem sofrido sérias restrições como principal recurso da educação bancária: o professor - que é quem sabe - transmite o seu saber e o aluno - quem tem que aprender - recebe passivamente o conhecimento.
O professor consciente, que quer estabelecer um outro tipo de relação com o aluno, pode fazê-lo mesmo usando a técnica da aula expositiva. Muitos fatores podem auxiliar o professor a desenvolver a técnica de uma forma dinâmica, em que haja trocas de experiências entre todas as pessoas envolvidas: conhecimento da matéria, estímulo à atenção, linguagem didática, concretização das idéias e observação do aluno, portanto a aula expositiva pode ser enriquecedora e dinâmica desde que o professor conheça bem o conteúdo, consiga prender a atenção dos alunos, utilize a linguagem didática com todos os seus recursos, procure tornar as idéias concretas e, o mais importante, certifique-se de que os alunos estão aprendendo realmente - que é a proposta deste artigo.

(*) Nelson Valente)
Professor universitário, jornalista e escritor

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CURRICULO

CURRÍCULO SILVIO SILVESTRE PEREIRA.
Possui graduação e Pedagogia pela Faculdade de Educação de Joinville ( 1998) Mestrado em Engenharia de Produção, “Mídia e Conhecimento” pela UFSC (2003). Pós-graduação em “Gestão da Informática na Educação” pela UFSC (1998). Especialização para Administração Escolar e Supervisão Escolar (Faculdade de Educação de Joinville) Licenciatura plena em Didática, Estágio Supervisionado, Fundamentos da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio.

Dados Pessoais
Nome: SILVIO SILVESTRE PEREIRA
http://silvestressp.blogspot.com/
Nome em Citação Bibliográfica: Silvio S.P.
Endereço Profissional: EEB. Wanderley Junior
Rua: Otto Julio Mallina nº. 438
Bairro Ipiranga São José Santa Catarina Brasil
Fone: 0(048) 3034 7678 – 9993-2678

Sexo: Masculino

Formação acadêmica/Titulação
2002 - 2003 Mestrado em Engenharia de Produção
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil.
Título: Novas Tecnologias e Práticas Docentes. Projetos nas salas informatizadas como alternativas para melhorar o aproveitamento dos computadores nas escolas públicas
Orientador: Francisco Antonio Pereira Fialho
Palavras-chave: Sala Informatizada, Projetos Educacionais.
Grande área: Educação / Área: Engenharia de Produção / Novas Tecnologias.
Setores de atividade: Educação.

1997 - 1998 Pós-Graduação em nível de Especialização, em
“GESTÃO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO”
Titulo: A Importância da Informática no Processo de Ensino Aprendizagem Escolar.
Coordenador: Ricardo Miranda Barcia
Local: Centro Tecnológico da UFSC.



1982 - 1985 Graduação – Curso de Pedagogia
Local: Faculdade de Educação de Joinville

Especialização: Administrador Escolar
Supervisor Escolar.

Habilitação: Didática;
Estágio Supervisionado;
Estrutura de Funcionamento da
Educação;
Fundamentos da Educação;
Ensino Fundamental;


Atuação Profissional
1985 - 1990 Didática / Estágio Supervisionado
Local: EEB. Nossa Senhora
Angelina – Santa Catarina

1990 – 1997 Administrador Escolar
Local: EEB Paulo Medeiros
Joinville – Santa Catarina

1997 - 2000 Multiplicador do Projeto PROINFO na região de Joinville e Municípios Vizinhos. “Capacitação dos professores para atuarem na Sala Informatizada.
2000 - 2005 Administrador Escolar
EEB Jurema Cavallazi
Florianópolis Santa Catarina
2005 - 2010 Administrador Escolar
Estágio Supervisionado
Local: EEB. Wanderley Junior
São José Santa Catarina


Artigos Completos publicados ou periódicos

1998
Importância da Informática no Processo de Ensino Aprendizagem Escolar
2003
Novas Tecnologias e Práticas Docentes
“Projetos nas Salas Informatizadas como Alternativa para Melhorar o Aproveitamento dos Computadores nas Escolas Publica”.

domingo, 24 de outubro de 2010

Contribuições

[Ano]

Organização de Silvio S. Pereira

[Digite o nome do autor]
Celso Oliveira





LÍNGUA PORTUGUESA

A invasão bárbara
A palavra “bárbaro” provém do grego antigo e significa “não
grego”. Era como os gregos designavam os estrangeiros e os povos cuja língua materna não era a sua.
Porém, foi no Império Romano que a expressão passou a ser usada com a conotação de “não-romano” ou “incivilizado”.
O preconceito em relação aos povos que não compartilhavam os mesmos hábitos e costumes é natural dos habitantes dos grandes centros econômicos, sociais e culturais. Atualmente, uma das acepções da expressão “bárbaro” equivale a não-civilizado, brutal ou cruel.No uso informal, “bárbaro” também qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos: muito bonito, ótimo, muito
afável, compreensivo, uma idéia muito interessante, segundo
o dicionário Houaiss.Eu creio que ainda é uma questão civilizatória. Ou seja, omundo está em transformação. Tudo está se modificando deforma rápida. Não seria diferente no âmbito da educação.Uma fala importante do professor Gumercindo de Andrade,da rede pública de ensino, nos faz pensar. Ele diz, inspirado em Paulo Freire, que “o professor, hoje, não vai mais partir do pedagógico para o mundo real. Ele vai partir do mundo real para o pedagógico”. Isso significa que a escola começa se alimenta da inteligência coletiva que emerge da rede. Uma revolução não-televisionada que rompe os muros da educação.
Na verdade, essa barreira já foi destruída. “Os limites que separam nossas conversações parecem o Muro de Berlim hoje,mas eles realmente são apenas uma amargura. Nós sabe mosque eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los (...) As conversações em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que eles. Nós temos ferramentas melhores, novas idéias, nada de regras para nos fazer mais lentos”1. Independentemente de querermos ou não, a cultura de rede está rompendo as sólidas estruturas consertadas desde a modernidade. Não podemos mais explicar o mundo a partir da ótica cartesiana. Descartes não dá mais conta de atender à complexidade do caos. As relações em rede formam multidões que atuam sem controle central, na concretude de um outro paradigma. Ninguém sabe aonde essa transformação vai chegar. Mas sabemos que nada será como antes.Relembremos Pierre Levy: “ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu
monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos. As ferramentas do ciberespaço permitem considerar amplos sistemas de testes automatizados acessíveis a todo o momento e redes de transação entre a oferta e emana de competência.Ao organizar a comunicação entrem pregadores, indivíduos e recursos de aprendizado de todas as ordens, as universidades do futuro estariam contribuindo para a animação de uma nova economia do conhecimento”. Esta é a hora de fomentar incertezas, pois incertezas trazem nas entrelinhas uma descoberta, a busca pelo aprendizado.Isso tudo é bárbaro! Somos estrangeiros no nosso próprio mundo. Imigrantes do conhecimento. Somos aqueles que atingem seus objetivos com trabalho e residência. E é certo que venceremos. Somos a invasão bárbara.
1 Manifesto Cluetrain
(Hernani Dimantas. Le Monde Diplomatique Brasil,
setembro de 2008, com adaptações.)

Behaviorismo
Construtivismo
Teoria de Piaget
As Neurociências
Teoria das Inteligências Múltiplas
Os Estilos de Aprendizagem
A dominância cerebral
A Aprendizagem Consciente
A inteligência Artificial
A Aprendizagem das Espécies
Aprendizagem e Meta-Aprendizagem


BEHAVIORISMO

("Teóricos do Comportamento" Definição
Teoria da aprendizagem (humana e animal) que se centra apenas nos "comportamentos objetivamente observáveis" negligenciando as actividades mentais... A aprendizagem é simplesmente definida como a aquisição de um novo comportamento.
• Princípios do Behaviorismo
A forma mais simples de aprendizagem é a habituação, isto é, a diminuição da tendência para responder aos estímulos que, após uma exposição repetida, se tornaram familiar. O organismo aprende que já encontrou um dado estímulo numa situação anterior.
O "condicionamento" é um processo universal de aprendizagem:
1) Condicionamento clássico : engloba o reflexo natural de resposta a um estímulo.
2) Condicionamento instrumental (operante) : que envolve o reforço da resposta ao estímulo.
a) Não leva em conta algumas capacidades intelectuais das espécies superiores;
b) Não explica alguns tipos de aprendizagem , como por exemplo o reconhecimento de padrões de fala diferentes detectados em bebês que não tinham sido antes reforçados para tal;
c) Não explicam alguns dados conhecidos de adaptação, por parte de alguns animais, dos seus comportamentos (previamente reforçados ) em novos contextos...

O CONSTRUTIVISMO

Definição:
Teoria da Aprendizagem que parte do pressuposto de que todos nós construímos a nossa própria concepção do mundo em que vivemos a partir da reflexão sobre as nossas próprias experiências.
Cada um de nós utiliza "regras" e "modelos mentais" próprios (que geramos no processo de reflexão sobre a nossa experiência pessoal), consistindo a aprendizagem no ajustamento desses "modelos" a fim de poderem "acomodar" as novas experiências...
• Princípios do Construtivismo
1) A Aprendizagem é uma constante procura do significado das coisas. A Aprendizagem deve pois começar pelos acontecimentos em que os alunos estão envolvidos e cujo significado procuram construir...
2) A construção do significado requer não só a compreensão da "globalidade" como das "partes" que a constituem. As "partes" devem ser compreendidas como integradas no "contexto" das "globalidades". O processo de aprendizagem deve portanto centrar-se nos "conceitos primários" e não nos "fatos isolados".
3) Para se poder ensinar bem é necessário conhecer os modelos mentais que os alunos utilizam na compreensão do mundo que os rodeia e os pressupostos que suportam esses modelos.
4) Aprender é construir o seu próprio significado e não o encontrar as "respostas certas" dadas por alguém.
(Jackeline e Martin BROOKS : "The Case for Construtivista Classrooms)

A PERSPECTIVA DESENVOLVIMENTALISTA DE PIAGET

.Definição
Modelo que se baseia na idéia de que a criança, no seu desenvolvimento, constrói estruturas cognitivas sofisticadas - que vão dos poucos e primitivos reflexos do recém-nascido até às mais complexas atividades mentais do jovem adulto. De acordo com Piaget, a estrutura cognitiva é um "mapa" mental interno, um "esquema" ou uma "rede" de conceitos construídos pelo indivíduo para compreender e responder às experiências que decorrem dentro do seu meio envolvente.
Princípios
A teoria de Piaget identifica quatro estádios de desenvolvimento e um conjunto de processos através dos quais acriança progride de um estádio a outro:
1) Estádio Sensório-Motor ( do nascimento aos 2 anos) - a criança, através de uma interação física com o seu meio, constrói um conjunto de "esquemas de ação" que lhe permitem compreender a realidade e a forma como esta funciona.Acriança desenvolve o conceito de permanência do objecto, constrói alguns esquemas sensório-motores coordenados e é capaz de fazer imitações genuínas (adquirindo representações mentais cada vez mais complexas);
2) Estádio Pré-Operatório (2 - 6 anos) - a criança é competente ao nível do pensamento representativo mas carece de operações mentais que ordenem e organizem esse pensamento. Sendo egocêntrica e com um pensamento não reversível, a criança não é ainda capaz, por exemplo de conservar o número e a quantidade.
3) Operações Concretas (7 - 11 anos) - conforma a experiência física e concreta se vai acumulando, a criança começa a conceptualizar, criando "estruturas lógicas" para a explicação das suas experiências mas ainda sem abstração.
4) Operações Formais (11- 15 anos) - Como resultado da estruturação progressiva do estádio anterior a criança atinge o raciocínio abstrato, conceptual, conseguindo ter em conta as hipóteses possíveis e sendo capaz de pensar cientificamente.

A perspectiva das NEUROCIÊNCIAS

Definição
As neurociências dedicam-se ao estudo do sistema nervoso humano, ao estudo do cérebro e das bases biológicas da consciência, da percepção, da memória e da aprendizagem.
Princípios
* O sistema nervoso e o cérebro são as bases físicas/biológicas do nosso processo de aprendizagem,o suporte material do funcionamento intelectual
* O suporte material do funcionamento intelectual, surge como um órgão composto por três cérebros: o arqueocortex (cérebro "réptil", que data de há 250 milhões de anos), que controla as funções básicas sensório-motoras, assegurando as relações com o meio e a adaptação; o paleocortex (cérebro "límbico", que data dos "mamíferos", há 150 milhões de anos), que controla as emoções elementares (medo, fome, ...), o instinto genésico (relativo à procriação), a memória, o olfato e outros instintos básicos; o "neocortex" (que data dos novos mamíferos de há algumas centenas de milhares de anos), que representa cerca de 85% da massa cerebral e que controla a cognição, o raciocínio a linguagem e a inteligência.
* O cérebro não é um computador - A estrutura das conexões neuronais no cérebro é livre, flexível, "como que uma teia", sobreposta e redundante. Para um sistema como este é impossível funcionar como qualquer computador de processamento linear ou paralelo. A melhor descrição do cérebro será vê-lo como "um sistema auto-regulável".
* O cérebro altera-se com o uso através de toda a vida. A concentração mental e o esforço alteram a estrutura física do cérebro.
* Os neurônios (células nervosas), conectados entre si através das "dendrites", são cerca de 100 bilhões e podem ter entre 1 e 10 000 sinapses cada um. A complexidade das conexões possíveis é incalculável e o próprio padrão das conexões sinápticas pode alterar-se com o uso do cérebro, isto é, após uma conexão sináptica estabelece-se um padrão que faz com que essa mesma conexão seja mais fácil numa próxima vez (resultando mesmo numa alteração física da sinapse), como acontece por exemplo no campo da memória.

AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
(Howard Gardner)

• Definição
Teoria desenvolvida por Gardner que sugere a existência de pelo menos 7 inteligências distintas, isto é, de 7 distintas maneiras de perceber e "conhecer" o mundo e de as pessoas resolverem os problemas que lhes surgem, correspondendo de alguma forma a 7 estilos de aprendizagem.
Princípios
Gardner define "Inteligência" como um conjunto de competências que:
é autônomo das outras capacidades humanas;
tem um núcleo base de operações de "processamento de informação";
tem uma história diferenciada de desenvolvimento (estádios de desenvolvimento por que todas as pessoas passam);
tem raízes prováveis na evolução filogenética; e
pode ser codificada num sistema de símbolos .
As sete inteligências identificadas por Gardner são:
Verbal / Linguística - A habilidade para "brincar com as palavras", contar histórias, ler e escrever. A pessoa com este estilo de aprendizagem tem facilidade em recordar nomes, lugares, datas e coisas semelhantes;
Lógica / Matemática - A capacidade para "brincar com as questões", para o raciocínio e pensamento indutivo e dedutivo, para o uso de números e resolução de problemas matemáticos e lógicos;
Visual / Espacial - Habilidade para visualizar objetos e dimensões espaciais, para criar "imagens" internas. Este tipo de pessoas adoram desenhar, pintar, visitar exposições, visualizar slides, videos e filmes...
Somato-Quinestésica - Conhecimento do corpo e habilidade para controlar os movimentos corporais. As pessoas com este "tipo de inteligência" movem-se enquanto falam, usam o corpo para expressar as suas idéias, gostam de dançar, de praticar desportos e outras atividades motoras.
Musical - Rítmica - Habilidade para reconhecer sons e ritmos; trata-se de pessoas que gostam de ouvir música, de cantar e até de tocar algum instrumento musical.
Interpessoal - Capacidade de relacionamento interpessoal. São pessoas que estão sempre rodeadas de amigos e gostam de conviver.
Intrapessoal - Auto-reflexão, metacognição e consciência das realidades espirituais. São pessoas que preferem "estar sós" e pouco dadas a convívios.
(Gardner - Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences)

OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM

.Definição
Teoria da Aprendizagem que parte da ideia de que os indivíduos têm diferentes maneiras de "perceber" e de "processar a informação" o que implica diferenças nos seus processos de aprendizagem.
Princípios
O conceito de "estilos de aprendizagem" tem a sua raíz na Psicologia, especialmente na classificação dos "tipos psicológicos" (C. Jung).
Das interações entre os dados genéticos do indivíduo e as exigências do meio resultam diferentes formas de recolher e processar a informação, podendo apontar-se os seguintes tipos:
Relativamente à Recolha da Informação :
Os Concretos - recolhem a informação através da experiência direta, fazendo e agindo, percebendo e sentindo;
Os Abstratos - Recolhem a informação através da análise e observação, pensando...
Relativamente ao Processamento da Informação :
Os Ativo - Fazem imediatamente qualquer coisa com a informação que recolheram da experiência;
Os Reflexivos - Após a recolha de novas informações pensam nelas e refletem sobre o assunto.
(McCarthy - Teaching to Learning Styles with Right/Left Mode Techniques)

CÉREBRO DIREITO / CÉREBRO ESQUERDO

Definição
Uma teoria acerca da estrutura e funções do cérebro que sugere que:
a) os diferentes hemisférios cerebrais controlam diferentes "modos" de pensar;
b) todos nós temos uma preferência por um ou outro desses modos.
Princípios
A investigação tem demonstrado que os dois lados (hemisférios) do cérebro são responsáveis por diferentes modos de pensamento admitindo-se que, em geral, essa divisão implica:

Hemisfério Esquerdo Hemisfério Direito
Lógico Aleatório
Seqüencial Holístico (simultâneo)
Racional Intuitivo
Analítico Sintético
Objetivo Subjetivo
Percebe o pormenor Percebe a forma
A maioria dos indivíduos tem uma preferência por um destes estilos de pensamento; no entanto, algumas pessoas são adeptas dos dois estilos (ambidextras). Em geral a Escola tende a valorizar o modo de pensar do hemisfério esquerdo (que enfatiza o pensamento lógico e a análise) em detrimento do modo característico do hemisfério direito (que é mais adequado para as artes, os sentimentos e a criatividade).
(Bernie McCarthy - Teaching to Learning Styles with Right/Left Mode Techniques)


A APRENDIZAGEM CONSCIENTE"

De acordo com os resultados dos estudos experimentais em pedagogia podemos definir sete estádios de aprendizagem humana ao longo de toda a vida ...
Primeiro Estádio: Aprendizagem de sinais em função de estímulos-respostas, quer vegetativos, quer involuntários;
Segundo Estádio: Aprendizagem das relações estímulos-respostas musculares ou voluntárias;
Terceiro Estádio: Aprendizagem de cadeias mentais ou verbais;
Quarto Estádio: Aprendizagem de uma discriminação múltipla, isto é, escolha voluntária entre várias respostas em função de um estímulo dado;
Quinto Estádio: Aprendizagem de um conceito, isto é, escolha entre várias respostas em função de vários estímulos;
Sexto Estádio: Aprendizagem de um princípio, isto é, combinação de conceitos que conduzem ao conhecimento, no quadro de um contexto.
Sétimo Estádio: Aprendizagem da resolução de um problema, isto é, reflexão tendo em conta o meio.
"É preciso insistir no fato de os processos de aprendizagem serem baseados no sistema de comunicação entre o cérebro e o meio, por intermédio do corpo."
(Daniel Dubois (1994): "O Labirinto da Inteligência. Da Inteligência Natural à Inteligência Fractal"; Lisboa: Instituto Piaget; pg 38)

Aprendizagem e Inteligência Artificial - Alguns Conceitos ...
Daniel Dubois ( engenheiro civil / cibernética)
"A inteligência é como um prisma de numerosas faces. Não se trata de uma qualidade própria das condutas humanas, mas sim de uma função auto-organizadora de comportamentos que se desenvolvem e evoluem. O cérebro humano não é o único suporte da inteligência: qualquer outro sistema, quer seja natural ou artificial, pode engendrar comportamentos inteligentes... O objetivo de um sistema inteligente é reconstruir a (ou as) melhor(es) representação (ões) do seu meio e de si próprio, a fim de adquirir o máximo de autonomia e de ser o menos possível sensível às flutuações do meio. Para atingir este objetivo, ele desenvolve a atividade de aprender e de auto-aprender.
A APRENDIZAGEM é, precisamente, o processo que permite a criação de novas representações. Pode ser "inculcada", no sentido em que estas novas representações são propostas aos sistemas inteligentes, que as assimilam. A auto-aprendizagem é o processo pelo qual o sistema inteligente cria, por si próprio, novas representações... O cérebro humano parece ser o único sistema inteligente dotado daquilo a que chamamos a meta-aprendizagem [aprendizagem da aprendizagem - que pode ser "inculcada sob a forma de regras/instruções] e a meta-auto-aprendizagem [reflexão do sistema sobre os seus próprios métodos de auto-aprendizagem - que se assemelha ao fenômeno da consciência]" (O labirinto da Inteligência, pp. 15-17)
Georges Vignaux ( neuropsicologia)
"... qualquer aprendizagem num sistema ou num ser vivo manifestar-se-á pela aquisição de uma ou mais propriedades que não são inatas neste sistema ou neste ser ..." ( As ciências cognitivas ; pp.135)

O MODELO DE APRENDIZAGEM BASEADO EM REGRAS

( Segundo Daniel Dubois)
Idéias principais:
"Os patrimónios genéticos dos seres vivos são mais ricos em regras de aprendizagem do que em informações" [... os ratos (como demonstrou Tolman) constroem mapas mentais do seu espaço familiar; as abelhas dispõem de mapas mentais estabelecidos no decurso de uma fase instintiva de reconhecimento do território; experiências com pombos sugerem que eles têm uma capacidade inata de generalização de certos conceitos ...]
Muitos animais, como parecem provar as investigações feitas no domínio das neurociências, estão mais particularmente aptos em certos domínios favorecidos pela seleção natural e são particularmente "estúpidos" ou inaptos no que toca às aprendizagens que não têm que ver com o seu estilo de vida.
No entanto, " O cérebro humano, para além da sua capacidade de memorizar e de tratar conhecimentos, teria a possibilidade de memorizar e tratar regras de aprendizagem por meta-aprendizagem, que é, ela própria, constituída pela memorização de meta-regras adquiridas e/ou inatas."
"Através da auto-aprendizagem, o cérebro humano teria, além da sua capacidade de memorizar e de tratar os conhecimentos descobertos em si próprio ou adquiridos automaticamente no exterior, a possibilidade de memorizar e de tratar auto-regras de aprendizagem, através de meta-auto-regras adquiridas e/ou inatas".
"Este último tipo de aprendizagem implica decisões "conscientes" no momento ... tendo como conseqüência o enfraquecimento da ação do instinto sobre o homem".
"Esta aprendizagem refletida ...é uma componente essencial da inteligência humana"
Embora a estrutura e a função dos neurônios sejam idênticas em todos os seres vivos (animais e humanos), a organização dos fluxos de informação neuronais é própria de cada espécie ... O próprio processo de aprendizagem tem, portanto, uma parte de inato e uma parte de adquirido ...

OS MOMENTOS DA APRENDIZAGEM

(Segundo Daniel Dubois)
A aprendizagem envolve quatro tipos de conceitos:
A aprendizagem propriamente dita - processo através do qual se criam novas representações - que pode ser inculcada, no sentido em que representações já prontas podem ser propostas aos sistemas inteligentes, que as assimilam;
A auto-aprendizagem - processo através do qual os próprios sistemas inteligentes criam novas representações;
A meta-aprendizagem - processo que se refere à aprendizagem da própria aprendizagem - que pode ser inculcada sob a forma de regras que orientam, guiam ou canalizam o processo de aprendizagem;
A meta-auto-aprendizagem - processo referente à reflexão do sistema inteligente sobre os seus métodos de auto-aprendizagem. Neste aspecto, a meta-auto-aprendizagem assemelha-se à Consciência